segunda-feira, 27 de julho de 2009

SEMANA 5 - FEBRE - CAPÍTULO 1


O que é febre?
Febre é a elevação controlada da temperatura do corpo
acima dos valores normais para o indivíduo.
Esta definição implica em se estabelecer o que é temperatura
normal, tarefa não simples, porque a temperatura
normal varia, dentro de certos limites, de acordo com
alguns fatores conhecidos:
– idade: o lactente apresenta uma temperatura normal
maior que a do adulto; a partir de 1 ano de idade, a
temperatura tende a diminuir para níveis semelhantes ao
do adulto. A temperatura é mais elevada no sexo feminino
e se altera com o ciclo menstrual;
– variação circadiana: a temperatura é mais baixa pela
madrugada (3 horas) e no início da manhã, e é máxima
no final da tarde (17 horas) e no início da noite. Esta
diferença já se nota a partir dos 6 meses de idade
(0,5 ºC), e se acentua a partir dos dois e especialmente
seis anos de idade (0,9 – 1,1 ºC);
– atividade física intensa e temperatura ambiental elevada,
em local pouco ventilado, podem acarretar elevação
da temperatura;
– local de medição: a temperatura retal é maior do que a
bucal, e esta é maior do que a axilar.
Desse modo, não se pode falar numa temperatura normal,
mas numa faixa normal e em limites superiores da
normalidade.
A temperatura axilar normal varia de 36,5 ºC pela
manhã a 37,5 ºC à tarde; a temperatura bucal é aproximadamente
0,5 ºC a mais do que a axilar, e a retal 0,8 a 1 ºC maior
que a axilar, ou seja, 38,3ºC, podendo atingir até 38,5 ºC.
Assim, pode-se definir febre como a temperatura axilar
acima de 37,5 ºC, ou retal acima de 38,3 ºC , sendo
que no 3º mês de vida o limite da retal atinge 38,5 ºC .

Observação: para transformar ºF em ºC, reduza 32 da
temperatura em ºF, divida o resultado por 9 e multiplique
por 5. Exemplo: 100,4 ºF = 100, 4 – 32 = 68, 4 ÷ 9 = 7,6 x
5 = 38 ºC.


Qual é o mecanismo da febre?
A temperatura corpórea é regulada pelo centro termorregulador,
localizado no hipotálamo anterior, e que funciona
como termostato, ao qual compete manter o equilíbrio
entre produção e perda de calor (o termostato age mais
controlando a perda de calor), mantendo a temperatura
interna em aproximadamente 37 ºC.
Na febre, o termostato é reajustado – o centro regulador
eleva o ponto de termorregulação (set point) da temperatura
para um patamar mais elevado.
Seqüência patogenética na febre: agentes infecciosos
(micróbios – bactérias, vírus, fungos ou suas toxinas) ou
não infecciosos (tóxicos, drogas, antígenos) funcionam
como pirógenos exógenos, os quais induzem as células
fagocíticas (macrófagos e outras) a produzirem substâncias
de natureza protéica (IL 1, IFNd, FNT, IL 6). Estas são
chamadas de pirógenos endógenos, os quais estimulam a
produção de prostaglandinas (PGE2), que atuam no centro
termorregulador, elevando o patamar de termorregulação e
resultando na febre. A produção da PGE2 é controlada por
enzimas, as cicloxigenases2.
A febre deve ser distinguida da hipertermia, na qual há
aumento da produção ou diminuição da perda de calor, sem
alteração do set point.
Pode ocorrer, quando há excesso de calor ambiental,
incluindo excesso de agasalho (principalmente em recém nascidos), exercício físico intenso,
desidratação hipernatrêmica (principalmente em recém nascidos).


A febre, em si, é danosa ou benéfica ao
organismo? É um amigo ou um inimigo?
A febre é um inimigo... mas nem tanto, porque:
– a febre aumenta o consumo de oxigênio e prejudica o
rendimento cardíaco,
... mas isso só tem relevância clínica em crianças muito
debilitadas, em pneumonias graves, em que se acentua
a hipoxemia, e nos cardiopatas;
– a febre pode causar convulsão,
... mas só em febres de instalação súbita, em crianças de
seis meses a três anos, geneticamente predispostas;
além disso, hoje se sabe que as convulsões febris,
embora indesejáveis, não acarretam o risco de lesão
cerebral; ainda mais, as crianças de mais de um ano de
idade e que já passaram pelo teste de ter algumas febres
acima de 38,7 ºC e não tiveram convulsão dificilmente
estão expostas a esse desagradável evento;
– a febre alta pode causar lesão cerebral,
... mas isto só ocorre com febre acima de 41,5 ºC, o que
não ocorre se a criança está usando antitérmicos;
– a febre se associa com outros sintomas que causam
desconforto: dor muscular, irritabilidade, mal-estar,
fraqueza e baixa de apetite,
... mas isso depende da criança, da causa e da intensidade
da febre – o uso de antipiréticos alivia a dor, mas
não atua sobre a fraqueza e o apetite (mediadas pelos
pirogênios endógenos).

A febre é um amigo... mas nem tanto, porque:
– existem evidências experimentais, em animais e humanos,
de que temperaturas elevadas estão associadas à
redução da reprodução microbiana e viral e ao estímulo
da atividade imunitária,
... mas não existe demonstração clínica convincente de
que a terapia antipirética aumenta o risco ou piora a
evolução das infecções virais ou bacterianas comuns;
– a curva febril auxilia o diagnóstico,
... mas um antitérmico dado num pico febril não produz
alterações significativas;
– o antitérmico pode mascarar a gravidade da doença,
... mas é o contrário: nos casos duvidosos, com toxemia
moderada, o reexame da criança após o efeito de uma
dose de antitérmico pode determinar se o caso é realmente
grave (a criança continua muito abatida) ou é
benigno (a disposição da criança apresenta melhora
evidente).